O Cruzeiro no Alto do Morro da Camambosa

Quadro exposto no Memorial Padre Daniel, na Praça da Igreja Matriz. 

” Em 3 de maio de 1957 o Sr. Raul Brito, incentivado pelo católico fervoroso e Professor Eleutério Tavares, juntamente com a Congregação Mariana, resolveu colocar um cruzeiro no alto do morro o afim de que o povo caculeense fizesse mais sacrifício e penitência.   Os congrega dos marianos fizeram uma procissão e o madeiro foi levado pelos homens.    Na subida da ladeira os homens perderam as forças e tiveram a ideia de ir puxando em um couro de boi puxador por cordas, pois, não havia Estrada na época.    Depois da introdução da cruz (madeiro) no alto do morro, houve missa solene celebrada pelo Padre Daniel e vários fiéis.   Estiveram presentes no evento Frei Isaías e Frei Paulo, que vieram de Salvador em época de missão e várias entidades religiosas.   Os encarregados da festa foram os irmãos : Sr. Antônio Batista (Sr. Nem) e Sr. Miguel Batista (Miguel do Morro) que de tão empolgados construirão um barracão para a celebração da missa.   Diante de tanto fervor, a comunidade criou o costume de celebrar todo 03 de Maio a missa do Dia da Invenção da Santa Cruz, em sinal de penitência. ”

Rio do Antônio – O Trem da História

Rio do Antônio – O Trem da História:   Os contos de uma cidadezinha do interior

Documentário apresentado como Projeto Experimental de Conclusão do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

Direção: Mary Azeredo
Fotografia: Eliwelton Lima
Som Direto: Filipe Sobral
Montagem: Eliwelton Lima e Mary Azeredo

https://youtu.be/DMEMsFeQBEU

Caatinga (PELD, UFPE)

A Caatinga é o único Bioma exclusivamente brasileiro e certamente é um dos mais alterados pelas atividades humanas nos últimos séculos, (Almeida et al., 2009). Segundo o Ministério do Meio Ambiente-MMA (2003) é um ecossistema extremamente heterogêneo e inclui pelo menos uma centena de diferentes tipos de paisagens únicas.

Este bioma é típico do semiárido, resistente a secas e rico em recursos naturais. Localiza-se em uma das mais populosas regiões semiáridas do mundo e encontra-se em uma das áreas mais pobre do país, possuindo em seu entorno aproximadamente 28 milhões de habitantes. Diante da situação de pobreza e falta de acesso a políticas sociais adequadas a população pobre acaba exploração esse recurso natural de forma desordenada e insustentável. Assim, o bioma é explorado irracionalmente e essas explorações têm causado grandes impactos ambientais, sociais e econômicos transformando a população cada vez mais pobre e necessitada.

A Caatinga é o tipo de vegetação que cobre a maior parte da área com clima semiárido da região Nordeste do Brasil. Naturalmente, as plantas não têm características uniformes e os fatores ambientais são determinantes para definir essas características, e dentre esses fatores, o clima é considerado preponderante. Historicamente a região Nordeste sempre foi afetada por grandes secas ou grandes cheias. No semiárido nordestino, essa variabilidade climática, em particular as situações de seca, representa dificuldades para populações rurais do interior da região. Acredita-se que a vegetação nativa obedeça a uma dinâmica de expansão e retração, apresentando períodos de “exuberância” nas chuvas e de “dormência“ nas secas. Entretanto, pouco se conhece sobre essa dinâmica. (MMA, 2003).

A Caatinga, que possui uma fauna e flora com grande diversidade de espécies, há séculos tem sido submetida a um intenso processo de ocupação, na maioria das vezes promovida de modo a gerar grandes impactos ambientais.

Em meados da década de 80 havia mais de 4.500.000 ha com plantas de algodão, 80% dos quais concentrados no Semiárido brasileiro. Em virtude de questões econômicas, a ocorrência da praga do bicudo e políticas de governo ineficazes, o cultivo dessa cultura foi praticamente dizimado. As consequências sociais desse processo ainda hoje são sentidos, e uma grande pressão pelo uso da madeira existente na Caatinga tem provocado grandes modificações na cobertura vegetal, com impactos intensos no clima local.

Estudos mais recentes destacam que o Semiárido brasileiro será a região do País mais afetada pelas mudanças climáticas, com possibilidade de aumento na temperatura do ar de 2 a 4°C até o final deste século, e substanciais reduções na precipitação pluviométrica (Marengo et al., 2010). Embora as incertezas dos modelos climáticos empregados na previsão de tais cenários não sejam ainda bem conhecidas, muitos cientistas acreditam que as intervenções na busca de redução das emissões de gases do efeito estufa, e muitas outras medidas mitigadoras, devem ser imediatamente postas em prática. Nesse sentido, a resiliência desse importante bioma às oscilações climáticas atuais ainda não foi devidamente investigada e diferenciações marcantes entre áreas de Caatinga antropizada e preservada devem ser apoiadas com urgência.

Muitos estudos têm evidenciado que a matéria seca acumulada em dado bioma pode ser obtido em função da fração da radiação fotossintética absorvida e a radiação solar incidente, acumulados em dado intervalo de tempo. Nesse sentido, alguns estudos têm demonstrado ser possível obter a quantidade de carbono seqüestrado da atmosfera por meio de estimativas da eficiência de uso da luz e componentes da energia, com imagens orbitais (Namayanga, 2002; Bastianssen & Ali, 2003).

Os biomas de regiões semiáridas são dos mais vulneráveis às mudanças climáticas globais associadas aos efeitos de aquecimento global induzido pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera. Em paralelo, o crescimento populacional tem induzido uma expansão das fronteiras agrícolas sobre áreas de biomas nativos.

A variação espacial e temporal das condições da vegetação e da dinâmica dos ecossistemas pode ser monitorada por imagens de sensoriamento remoto, utilizando índice de vegetação espectral, (Perry & Lautenschlager, 1984; Cohen,1991). O índice de vegetação por diferença normalizada além de possibilitar o estudo da dinâmica do ecossistema, também pode ser utilizado nos estudos de mudanças do uso da terra, desertificação e processos de mudanças climáticas em escala regional e global, (Karnieli et al., 1996).

O monitoramento da superfície da terra em longa escala de tempo é necessário para descrever a resposta do ecossistema as variabilidades climáticas e antrópicas. Ecossistemas semiárido e áridos são os únicos ambientes fácies de detecção de mudanças da cobertura da terra devido à variação climática, isso porque à água é um fator limitante desse ecossistema, (Weiss et al., 2004).

O Sensoriamento remoto tem se caracterizado como um instrumento para o planejamento e monitoramento dos recursos naturais. A radiação eletromagnética incidente sobre a vegetação e o solo é parcialmente absorvida e refletida. A parte que é refletida pode ser captada por um espectroradiômetro que caracteriza a resposta espectral da vegetação e do solo.

 


 

O Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cinentífico e Tecnológico (CNPq) tem como missão promover a organização / consolidação do conhecimento existente sobre a composição e funcionamento dos ecossistemas brasileiros, gerando ferramentas e informações para avaliar sua diversidade biológica. É um programa de pesquisa ecológica induzida, cuja execução está centrada numa rede de “sítios selecionados” representativos de vários ecossistemas brasileiros. O PELD está vinculado ao Programa Integrado de Ecologia (PIE) e teve sua aprovação pelo Fórum Nacional de Coordenadores de Cursos de Pós-graduação em ecologia e pelo presidente do CNPq em março de 1996.


 

 

Fonte:  transcrição do site Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), da Universidade Federal de Pernambuco – link acessado em 2.1.2015:  https://www.ufpe.br/sercaatinga/index.php?option=com_content&view=article&id=300&Itemid=175

 

 

 

Os Revoltosos de 1926

Os Revoltosos
Autor: Adalberto Prates
Brumado – Bahia

Essa história era contada pela minha avó. Até hoje lembro de cada detalhe que ela me dizia.

Foi a passagem da Coluna Prestes pelos interiores da Bahia onde deixou marcas profundas. Decorridos 70 anos, ainda povoa as lembranças dos povos mais antigos, a minha avó nessa época tinha 12 anos e para ela a Coluna Prestes significava muitos homens barbudos, lutando contra o governo, montados a cavalo, armados, lenço vermelho no pescoço, carentes de banho e roupa limpa, com sotaque esquisito, dispostos a tudo, sempre escapulindo, quebrando o sossego de todos, levando as montarias que encontravam, carneando bois e cabras com incrível agilidade, para churrascos apressados, dando maiores prejuízos. Cidades abandonadas às pressas, gente escondendo seus pertences. Mulheres chorando, pedindo aos santos, crianças excitadas com reboliço, homens corajosos prometendo resistir, alguns recebendo dinheiro, armas e patentes do governo para combater. Essas grandes agitações foi entre 1925 e 1926.

Um dia no sítio da minha bisavó estavam todos trabalhando no engenho de cana-de-acúçar e ficaram sabendo que os revoltosos estavam por aquela região e que todos do povoado estavam fugindo, meu bisavô resolveu fugir também, só que para minha bisavó não era necessário sair de casa e o que ela poderia fazer é rezar para seus santos.

Mais tarde da noite ela começou ouvir sons de harmônica ( mais conhecida como sanfona) e muitos homens com bandeiras e todos de lenço vermelho no pescoço, minha avó gritou: são os revoltosos e eles estão lá no engenho, eu só lembro ela dizendo que seu pai ficou apavorado e começou a arrumar as coisas para fugir, só que os revoltosos avistaram as luzes da casa e foram lá e bateram a porta, minha avó entrou no baú e sua mãe foi abrir, os homens estavam com muita fome e pediu comida. Ela preparou a janta, mais veio falar com ela uma mulher vestida de homem dizendo que gostaria de passar a noite e que não iria fazer nada com eles e acabaram passando a noite por lá.

Logo cedo foram embora e de agradecimento lhe deu tecidos de seda e joias para minha bisavó. Mais não aconteceu a mesma coisa com seu irmão, pois ele fugiu levando sua família e seus pertences de valor, quando voltou para casa os revoltosos tinha posto fogo em tudo para eles não havia mais nada de valor.

Como diziam minha avó: ” eles eram heróis e vilões fascinam e metem medo, encantam uns, apavoram outros, provocando contorvérsias sem fim.”

Pessoas que viveram essa história
Nome da bisavó: Estefânia Rodrigues Alves (i.m)
Nome do bisavô: João Galvão Alves (i.m.)
Nome da pessoa que contava essa história Maria Rodrigues Alves de Azevedo minha avó.( i.m.)

Fonte e transcrição: blog “Recanto das Letras”, acessado em 31.12.2015  – link:  http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4218306

O museu e sua função sócio-educativa: o caso do museu de arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs)
Vieira Augusto Diniz

Resumo

O seguinte artigo é baseado na experiência de estágio supervisionado realizado no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS).

É desenvolvido um projeto de intervenção que leva ao museu os alunos do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Florinda Tubino Sampaio, o qual tem como objetivos reconhecer o museu como uma organização cultural complexa e, principalmente, sensibilizar os alunos-visitantes para o espaço museológico, despertando o interesse para futuras visitações aos mais diferentes museus.

Aspectos como a capacidade de geração de ambiência, local onde as trocas pedagógicas possam ser catalisadas; a complexidade museológica, que se baseia no conhecimento multidimensional; e, finalmente, o modo mais adequado para a realização de uma visita pedagógica, o qual se baseia no diálogo com o público e no “sentir-se” bem; são desenvolvidos teoricamente. Através de uma pesquisa com os alunos, discute-se o paradigma das visitações limitadas às salas de exposição.

Texto completo : http://seer.ufrgs.br/index.php/CadernosdoAplicacao/article/view/10157/10311

 

 

 

O artista e poeta Almandrade comenta a transferência da responsabilidade cultural para a iniciativa privada e o processo de transformação dos museus em instituições de entretenimento.

Almandrade

O homem está sempre preocupado em preservar sua história e sua memória. Ele tem acesso ao seu passado através de relatos ou depoimentos de testemunhas oculares, documentos, textos, etc. Ou quando se defronta com as imagens que habitam um museu. Com isso, não quero dizer que o museu é um caminho em direção ao passado, ele é um lugar de possíveis diálogos entre passado, presente e futuro. Um abrigo do velho e do novo. Mas do que uma instituição destinada às festinhas de vernissagens, ele tem um papel cultural importante, além, abrigar os registros do tempo, é um veículo a serviço do conhecimento e da informação que contribui para o desenvolvimento da sociedade.

Desde quando a política e a economia reservaram à cultura um espaço quase que insignificante, dentro das prioridades da vida urbana, interesses alheios comprometeram o funcionamento das instituições culturais. A cidade precisa de tecnologias, partidos políticos, técnicos, políticos, empresários, especialistas, etc., mas acima de tudo, precisa de uma tradição cultural e do exercício da cidadania, para que ela própria signifique. Um museu guarda mais do que obras e objetos de valor e de prestígio social, uma situação, um fragmento da história, portanto um problema cultural. Tudo que nele é exibido deve ter um compromisso com o conhecimento, a memória e a reflexão. Sua programação não deveria ser decidida por patrocinadores que tem como objetivo final vender produtos muitas vezes até desnecessários e circular uma imagem de que está contribuindo para o “desenvolvimento cultural”.

Um museu deve ser um centro de informação e reflexão, onde o homem se reencontra com o belo, a história e a memória. Mas sem um projeto cultural que valorize seu próprio acervo e o que nele é exposto, sem deixar que eles se transformem em suportes para marcas publicitárias, o museu é apenas um lugar que atrai olhares dispersos, sem interesses culturais. Sem recursos financeiros e depois que a responsabilidade cultural foi transferida para a iniciativa privada, os museus vem se transformando em instituições de entretenimentos para atrair um grande público consumidor da marca que patrocinou os seus eventos.


Almandrade é  artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano e poeta

http://www.expoart.com.br/almandrade
http://www.imperios.com/monse/escultor/almandrade/almandrade.htm
http://www.provadoartista.com.br/almandrade.html


 

As contradições e complexidade da condição atual do Museu podem ser lidas em O Museu de Arte hoje, assim como a afirmação de seu propósito politico mais premente: “Uno de los mayores retos que afronta la cultura contemporánea, y por extensión el arte en todas sus modalidades y prácticas, es la de constituirse como un espacio público válido”. Por Chuz Martinez em Como aprender del arte a la hora de reinventar nuestro espacio social.

Periódico Permanente
v. 1, n. 1, 2012
Expediente
Sumário
Textos
Fonte: Transcrição do site  http://www.forumpermanente.org/revista/edicao-0/textos/o-museu-e-sua-funcao-cultural

 

 

A função social do museu: memórias e perspectivas.
Sandra Aparecida de lima
Historiadora graduada pela UFU.

 

Este trabalho pretende-se como uma reflexão sobre a função social do museu e as memórias as quais são evocadas a partir dos artefatos pesquisados.

Pensar na função social do Museu implica em refletir para quais finalidades estas memórias estão sendo pesquisadas em uma instituição que preserva o passado, como fonte documental.

Pensando em uma memória social em que o indivíduo lembra a partir de suas referências de grupo. E neste cenário em que o museu em questão é o Museu Municipal de Uberlândia, cujo acervo compõe-se de um material que aponta para os primeiros ofícios da região tais como: costureira, trabalhador rural, ourives, barbeiro, comércio, artigos religiosos, marcenaria e outros. Conduz-nos a pensar sobre esta fonte documental como elemento instigante à pesquisa da história do município e região, e principalmente às memórias que compõe esta trajetória histórica da região.

Como podemos adentrar as memórias em Halbwachs:

“Mas nossas lembranças permanecem coletivas e elas são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nas quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É  porque , em realidade, nunca estamos sós.”

(Halbwachs, 1990)

Nesta inferência ,analisamos que estas memórias evocadas a partir de um objeto nos redimensiona a outros objetos como também a outras memórias.

No depoimento de uma entrevistada que prestou estas informações para om Museu, ela ressalta:

“È, a gamela é um…um material usado prá fazer as coisas: amassar quitandas, colocar mantimento, lavar arroz, na época que num usava vasilhas de alumínio(…)”

Quando esta depoente situa o objeto que é uma vasilha feita pelo artesão, em que devia escolher bem a madeira para não deixar a massa amarga ou com gosto na hora de fazer, em que menciona que não tinha muitas de alumínio, ela nos traz esta referência do uso comum deste objeto. E também da importância deste ofício na época ,pois havia a habilidade em escolher a madeira para confecção  da gamela. Era interessante ver que este fazer artesanal, não estava desprovido de uma ciência em que a confecção do artigo precisava deste saber para realizar. Pois nestes saberes mencionavam-se que a madeira Cambuí era mais apropriada para as gamelas, isto porque não deixavam o gosto amargo quando a utilizavam para fazer as quitandas. E o cedro, já deixava este gosto nas massas de preparo das quitandas[1]. Recuperar nestes depoimentos o quanto cada ofício traz em si, a sua história , sua narrativa , sua trajetória, certamente carregadas de significações  que foram sendo adquiridas ao longo da trajetória do depoente[2] como nos diz Barbosa (Barbosa,2010).O que nos remete a uma reflexão ainda mais interessante quanto a estas narrativas , pois trazem esta significação do próprio depoente .

 

Nesse parâmetro as transcrições destas entrevistas nos remetem a outras possibilidades o que reforça a importância das memórias registradas, destas comunidades. Pois neste trecho transcrito o ofício do artesão em confeccionar a gamela também apresenta-se como  uma memória neste trecho transcrito. Esta análise sobre as memórias e para outras memórias que nos levam, é muito interessante.

A decodificação[3] dos objetos no Museu foi realizada a partir dos depoimentos da comunidade para identificação dos objetos e registros da história dos depoentes. Este projeto foi realizado com o intuito de pesquisa do acervo bem como ampliar as pesquisas acerca do acervo e sua história local. Os depoimentos são utilizados na composição do cenário, ou seja, no projeto museógráfico e nas etiquetas de cada artefato. Através desse reconhecimento da relação do Museu com a memória local  articulada por aqueles que vivenciaram, não apenas o uso desses objetos, alguns em desuso atualmente, mas um outro momento histórico em que foram protagonistas em seus saberes e fazeres. Esta função social do Museu de uma instituição que preserva o passado não de forma intangível mas como fonte documental para pesquisas e diálogos entre estas memórias e estas histórias.

Percorrer estes depoimentos nos revela o quanto a cidade foi um cenário de um cotidiano em que as pessoas vivenciavam modos e costumes diferentes do que os atuais. Os fogões de lenha que estavam presentes nos lares das famílias, o hábito de cozinhar a lenha. Como podemos verificar no encarte da mostra Nossas Raízes[4], mostra que retrata uma cozinha do início do século XIX .Esta Mostra apresenta um rico acervo em termos culturais e patrimonial, pois apresenta uma variedade de peças que podem ser pesquisadas para além da Mostra pois em uma pequena observação quanto aos visitantes é muito interessante quando uma criança realiza a visita com a companhia de uma idoso(a) este sempre fala de sua história de vida ao percorrer as salas de exposição falando sobre como era usado os objetos e consequentemente quanto as vivências  evocadas a partir de cada sala com seus artefatos e lembranças.

Uma história museando:

Uberlândia já constava de um Museu desde 1986 era denominado Museu de Ofícios de Uberlândia e que foi possível sua implantação através da aquisição feita pela prefeitura da cidade, do acervo do Sr. Argemiro Costa, funcionário aposentado do Fundo Rural (FUNRURAL) e colecionador de peças antigas que sendo analisadas por profissionais da Universidade Federal de Uberlândia e do Museu, deram origem ao Museu de Ofícios.

Este criado pela lei nº59/65,mas efetivado posteriormente,  cuja sede é o Palácio dos Leões – sendo que a primeira delas, realizou o tombamento deste prédio como patrimônio histórico, artístico e cultural do municícipio,pela lei municipal nº 4.209, artigo 4º, de 25 de setembro de 1985.

Este colecionador reuniu  artefatos em aproximadamente 1500 peças, mas não conseguiu catalogar os objetos, o que fez com que os profissionais do Museu o fizessem posteriormente com a participação das pessoas da comunidade. Estes registros foram realizados em fichas questionários que mencionavam o nome dos objetos, ano de sua fabricação ou mesmo dos anos em que foram utilizados pelos depoentes. O que caracteriza uma participação interessante das pessoas, o que deveria ser uma constante na instituição, pois recoloca estas memórias em seu contexto e também demonstra a importância do acervo em relação a história do Município.

O acervo compreendido entre artefatos do campo, da lida doméstica, dos primeiros ofícios, objetos utilizados em

Adentrando sobre a história da cidade:

 

A cidade de Uberlândia foi emancipada em 1888.A formação do município de Uberlândia perpassa pelo processo de ocupação e colonização do Brasil, no século XVI  até o século XX. A partir das expedições de exploração, que iniciaram com a Capitania de São Vicente, hoje Estado de São Paulo. Desta forma alguns grupos foram organizados, com a finalidade explorar o interior desconhecido do Brasil. Estas expedições eram dos bandeirantes.

Dentre as transformações ocorridas a partir destas expedições foram as ampliações dos limites territoriais. Descobrindo essas novas terras, houve então a organização de povoados, o que impulsionou o crescimento local e novo estruturas foram construídas nos novos espaços. Considerando que a povoação traz estas mudanças no ponto de vista social e econômico, estes avanços alavancaram novas organizações econômicas. Assim igrejas foram erguidas, oficinas de ferreiro sabendo que o trabalhador rural necessitava de ferramentas para manter suas plantações e construir suas casas. Posteriormente a estas povoações as incursões pelo Brasil tornaram bem mais ágeis e estas mantiveram o intuito de abastecimento.

Após estas implementações houve uma retomada quanto ao desenvolvimento local, pois como mencionamos  necessário ampliar as condições , a infra estrutura local para comportar as novas estruturas.

Conclusão:

 

O intuito do trabalho é apresentar as possibilidades de pesquisas para além de uma história oficial e oficiosa, mas sim múltipla a partir de memórias que se revelam em cada pesquisa em cada estrtrevista   realizada. Quando um destes indivíduos abre sua história de vida suas biografias eles não apenas nos falam de si, de suas perspectivas, mas sim daquilo que eles acreditam  e cada memórias é uma fonte e conhecimento. Pensar por exemplo em uma gamela usada para o alimento diário, e hoje os pratos em louça, plásticos. Como esta tecnologia foi sendo construída a partir de um conhecimento inicial já existente. E como os jovens diante destas informações se relacionam em seus aparelhos. Por exemplo, a gamela confeccionada artesanalmente e os pratos fabricados em larga escala. Quais as mudanças ocorridas nestes momentos? Estas são as perspectivas. Por exemplo, sentar à mesa para refeição um ato do cotidiano, hoje, no entanto a pressa ou mesmo o ato de almoçar fora não permite à algumas pessoas em fazê-lo.

Estas memórias nos trazem valores os quais são importantes e necessários para uma qualidade de vida equilibrada numa relação de valores e lembranças. Pensar nos sujeitos não como reféns de uma rotina imediatista, mas sim como sujeitos de sua história. E quando o museu expõe estas histórias a sua função social se  realiza pois não se restringe  a fatos mas sim a pessoas com as quais a instituição através de seus técnicos se relacionam numa produção de conhecimento em que  novos sujeitos, novas abordagens da histórica local se reconstrói numa perspectiva em  HALBWACHS(Halbwachs,1996), pois reconstruir recompõe um cenário em que elementos juntamente com outros já existentes lhe dá uma nova característica, porque passa pelo crivo de quem seleciona, de quem faz uma reflexão ao contar sua história. Esta é uma contribuição significativa da sociologia, pois não se pretende uma lembrança estática mas repleta de significados os quais  dão a cada paisagem esta nova configuração.

Assim neste aspecto quando adentamos um Museu nos colocamos em contato com nossas memórias, pois muitas dessas memórias ali representadas também estiveram em nossas lembranças, pois os artefatos nos revelam sobre tempos passados como nos situa no presente. Esta verificação nos coloca em comunicação entre passado e presente e nos aponta para o futuro. Pois ao analisarmos o depoimento sobre uma pessoa, um viajante que percorreu várias estradas em um carro de boi, certamente mencionará sobre os transportes atuais ou mesmo sobre a sua experiência em um automóvel.

Estas referências permitem este diálogo entre o passado e o presente, numa reflexão sobre o futuro, pois a partir destes artefatos é que outros foram elaborados, como o bule em uma cafeteira elétrica, e a relação social, pois novos profissionais foram sendo requisitados para estes trabalhos e também a valorização dos que trabalham no artesanato, na preservação destas práticas culturais, estes saberes e fazeres.

 

Acervo: breve descrição

O acervo deste Museu é um acervo com diversos artefatos que representam a cultura do trabalho, da lida doméstica, do comércio e outros aspectos. Estão classificados em categorias:

Categoria Objetos(acervo) Descrição
Tecelagem Par de cardas Objeto utilizado para separar os fios de algodão no processo de tecelagem.
Roda de fiar Este possibilita a transformação da pasta de algodão em fio, através dpo movimento de alongamento e torção das suas fibras.
Máquina de costura(manual) Máquina manual que revolucionou o mundo do vestuário. Em 1830, foi atribuída ao Francês: Berthélemy Thimomier , o invento desta máquina.
Utensílio doméstico Moinho de café Máquina manual, utilizada para moer grãos de café torrados, transformando-os em pó.
Esculateira Espécie de chocolateira, mas com um cabo do mesmo material o ferro.
Candeia Objeto utilizado para iluminação:tem como principal combustível o azeite de mamona, produzido em casa. Também era utilizado o   óleo de peixe e manteiga de porco, porém em menor frequência ,pois ambos eram de difícil acesso e devido ao preço.

 

 

Os objetos exemplificados na tabela acima, caracterizam a tipologia deste acervo, sendo uma expressão material de uma cultura que demonstra as vivências deste início da cidade.

Ao inferir esta cultura material como um instrumento de diálogo com outras gerações, no aspecto que nos propicia esta investigação ,certamente realiza esta relação com o passado , o presente e o futuro. Isto pois ao pensarmos estas questões nos leva a reflexão que a partir de cada artefato foi possível pensar outras formas de cultura, como por exemplo uma cafeteira elétrica, que nos remete ao bule com seu tradicional coador de pano sempre na lateral de um fogão de lenha. E assim estas lembranças , estas memórias nos levam a um tempo em que a cultura do fazer, do cotidiano é bem diferente da que presenciamos hoje. No entanto manter estas memórias nos lembram que deste trabalho inicial, desta vivência temos sempre algo a nos recordar e manter, no aspecto em que estas informações também nos auxiliam na reflexão sobre valores que estiveram presentes e constituíram valores relevantes, como o sentar a porta de uma vizinha e conversar no fim de tarde. Lembrando das longos viagens que se realizavam para uma visita a um parente, e assim quantos valores podem ser analisados através destas memórias.

Assim ao preservar a cultura material não estamos preservando o objeto pelo objeto, mas sim as informações e as interpretações que cada um destes artefatos podem como fonte documental instigar.

Esta função social do Museu que torna-se instigante a partir do momento em que a pesquisa sobre cada artefato nos leve a uma informação sobre este tempo histórico, este momento histórico a estas memórias que nos  auxiliam a tecer este cenário pertinente a um determinado momento da história, a um determinado momento da  história de vida de um destes personagens tão importantes como os fundadores , pois nos instiga a elaboração de um conhecimento  acerca do nosso município .

 

Referências Bibliográficas:

MEIHY, J.C.S.B. Desafios da história oral latino-americana: o caso do Brasil. In: FERREIRA,

M.M.; FERNANDES, T.M.; ALBERTI, V (orgs.). História Oral: desafios para o século XXI. Rio

de Janeiro: Editora Fio Crus/ Casa de Oswaldo Cruz/ CPDOC – Fundação Getúlio Vargas, 2000.

PORTELLI, A. Memória e diálogo: desafios da história oral para a ideologia do século XXI. In:

Ferreira, M., M., Fernandes, M., Alberti, V. (orgs.). História Oral: desafios para o século XXI. Rio

de Janeiro-RJ. Editora Fiocruz. 1ª Ed. p.67-72. 2000.

THOMPSON, P. A voz do passado – História Oral. 2. edição. São Paulo: Paz e

 


[1] Termo utilizado para designar os alimentos como: biscoitos de polvilho, bolos de milho, bolachas de nata e outros.

[2] Barbosa, Roldão Ribeiro. O uso da história oral.Na pesquisa em educação no Brasil, mestrando em  educação da UFPI(universidade Federal de Piauí, 2009, 2010.

[3] Termo utilizado por MORO, Camargo, Fernanda de. Museu: aquisição/documentação. Rio de Janeiro: Eça  Editora, 1986.320 pp.consite em todo o processo organizacional de documentação do acervo.

[4] MUSEU MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA (MMU). Mostra Nossas Raízes (catálogo). Uberlândia, 2000, 43p.

 

Fonte – Transcrição : http://www.museudapessoa.net/pt/explore/blogs/a-funcao-social-do-museu-memorias-e-perspectivas

ALBA – Dep. Miguel Fernandes

Dep. Miguel Fernandes
(informações divulgadas no site da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia – ALBA)

miguelfernandes
Dados Pessoais
Nome: Miguel Antônio Fernandes
Profissão: Comerciante, Industrial e Pecuarista
Nascimento: 06 de Junho de 1915, Caculé-BA
Falecimento: 06 de Novembro de 1966
Filiação: Antonio Norberto Fernandes e Ana Maria Maciel Fernandes
Cônjuge: Cacilda de Castro Fernandes
Filhos: Norberto Neto, Luciano, Miguel Filho, Eduardo e Maria Lúcia

Formação Educacional
Cursou o Primário e o Colegial em Caetité-BA.

Atividade Profissional
Ajudante da loja de tecidos e miudezas, trabalhou no serviço postal de Caculé e Monte Azul-MG. Fundou a Bahia Construtora LTDA, e a Construtora Fernandes. Pecuarista em vários municípios na região sul do Estado da Bahia.

Mandato Eletivo
Prefeito de Caculé, 1941-1947 e 1951-1955. Eleito deputado estadual Constituinte pelo Partido Social Democrático – PSD, 1947-1951.

Filiação Partidária
PSD;

Atividade Parlamentar
Na Assembléia Legislativa, titular das Comissões: Finanças (1947), Viação e Obras Públicas (1948-1950), Agricultura (1948), Saúde Pública e Assistência Social (1949).

Fonte: http://www.al.ba.gov.br/deputados/Deputados-Interna.php?id=544

“Museu fechado à elite não serve ao Brasil”

“Museu fechado à elite não serve ao Brasil”, diz Herkenhoff
Eron Rezende, Jornal A Tarde, Salvador
Seg, 16/11/2015 às 13:24 | Atualizado em: 17/11/2015 às 17:42

Ao deixar a direção do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 2006, Paulo Herkenhoff, 67, prometeu que não voltaria a assumir a chefia de um museu público. Sete anos depois ele foi apresentado como diretor do Museu de Arte do Rio (MAR), função que ainda exerce desde a sua fundação, em março de 2013. A mudança, Herkenhoff diz, não foi um revés na promessa.

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Herkenhoff foi curador da Bienal de São Paulo e hoje dirige o Museu de Arte do Rio (MAR)

Instituição-símbolo do projeto de remodelagem da região portuária do Rio de Janeiro, o MAR é um museu municipal com parte do orçamento bancada por empresas privadas. “É um modelo que dá certo. Se fosse para ficar nas mãos apenas da vagareza do poder público, eu jamais assumiria a tarefa”.

Ex-curador do Museu de Arte Moderna de Nova York e da Bienal de São Paulo, Herkenhoff considera-se, sobretudo, “um fazedor de coleções”. Na condução do MAR, sua curadoria ganhou o suporte de uma preocupação quase pedagógica. O título de “museu com maior equipe de educadores no Brasil”, que Herkenhoff reproduz com afinco, traduz seu apego à ideia de inclusão. “Museus precisam ter acessibilidade conceitual”, ele diz.

A estratégia bem-sucedida de aproximação com a periferia carioca (não é raro o MAR abrigar batalhas de passinho e hip-hop) e a experiência internacional têm feito Herkenhoff viajar pelo país em palestras sobre a atual função dos museus, como fez há duas semanas, em Salvador.

Nesta entrevista à Muito, ele fala sobre o papel desempenhado pelo Museu de Arte Moderna da Bahia, a falta de política de aquisição de obras dos museus brasileiros e a visão “paulistocêntrica”, que teima em reger a arte no Brasil.

O senhor já disse que não prega uma obra na parede se não for para dizer algo, que não faz decoração de interior nem defende consumo. Há curadores ou museus no Brasil que fazem isso?

Muitos. Ainda mais quando qualquer um pode ser curador. Mas não digo isso como queixa, não. Acho que faz parte do mercado. Da esperteza de alguns, na contramão do trabalho de outros. No meu caso, não. Entendo que o espaço para a exposição e o tempo são muito preciosos para se gastar com besteira, com artistas fracos, sem potência simbólica. Acredito no museu que não lida com a ideia de sobrevivência, mas de existência. O museu que surge e existe para ser uma experiência emancipatória, que luta contra as forças que o enxergam como um parque de diversões.

O Museu de Arte do Rio, no qual o senhor é diretor desde a fundação, em 2013, foi inaugurado sob um discurso de explorar, ao máximo, o retorno social por meio de eventos educativos. Exposições com apelo popular não cumprem melhor essa função?

Fazer mais um museu que seja fechado às elites, num processo de lutar por uma mesma audiência, não serve mais ao Brasil. A maneira como nós trabalhamos no MAR parte da conclusão de que museus precisam produzir esforços de inclusão. Ter acessibilidade conceitual – seja através de textos de parede ou do trabalho de mediadores.  Numa pesquisa que  fizemos, há um ano, os visitantes que vinham de áreas mais carentes ou que iam raríssimas vezes a museus afirmaram que o MAR era um museu onde eles se sentiam representados, porque tudo era simples de entender. O MAR abriga, com regularidade, uma batalha de hip-hop, mas não chamamos qualquer um, e sim MC Marechal, que tem extrema consciência social. As batalhas têm relação com as exposições. Não estou falando em show para atrair multidões. Estou falando em pensar, verdadeiramente, em inclusão.

O MAR não depende totalmente da verba pública. Quanto o financiamento privado pesa na condução do museu?

A prefeitura do Rio coloca em torno de R$ 13 milhões por ano. E nós temos empresas que doam e que não doam pela Lei Rouanet. Esse é um museu público, mas não partidário. Doar dinheiro para o MAR é doar dinheiro para a educação. Se a empresa quiser cooperar dessa forma, temos o maior prazer em trabalhar juntos. Se estiver atrás apenas da propaganda, aconselhamos que procure outra parceria.

O modelo de financiamento europeu, público, contrapõe-se ao americano, que privilegia o mecenato e a autogestão. O intercâmbio entre os dois modelos é o melhor caminho para o Brasil?

Numa sociedade onde existe uma civilização museológica mais complexa, como a Alemanha, um diretor de museu raramente está ao sabor das eleições. Há diretores que ficam 25 anos; eles não entram para ficar dois ou três anos, mas para desenvolver o projeto daquela sociedade de ter um museu. Nenhum sistema de financiamento é perfeito. Não acredito em sistemas de uma perna só. Mas vamos pegar o exemplo da Bahia, que teve um projeto museológico e cultural muito forte nos anos modernos. Hoje, a Bahia não tem nem algo próximo a isso. O estado espera por alguém capaz de abarcar o seu potencial e colocar, juntos, os seus melhores talentos e melhores projetos. Ainda assim, se eu tivesse que indicar um museu que me encanta pela esperança com que se lança para a sociedade, seria o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Não vejo, no horizonte brasileiro, um museu com tanta audácia no enfrentamento de seus limites. O que acontece na Bahia é um exemplo de como a gestão pública dos museus brasileiros é, em sua maioria, deficiente, mas há sempre gente disposta a lutar.

O MAM, surgido dentro do projeto moderno que o senhor menciona, é exemplo da falta de uma política de aquisição de obras dos museus públicos brasileiros…

Pouquíssimos museus brasileiros colecionam. E a primeira tarefa de um museu é colecionar. Sobretudo um museu público. Não há sentido em empresas privadas fazerem coleções. Depois de um prazo as obras deveriam ser disponibilizadas ao estado e distribuídas pelo país. Hoje, nós vivemos um sistema de colonialismo interno. Não há lugar no Brasil que consiga expor obras que estão em São Paulo, na mão de colecionadores particulares. Dependemos das decisões paulistanas.

 

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Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDE | 30.10.2015

O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão do Ministério da Cultura, não tem criado condições para iniciar uma política de aquisição de obras?

O Ibram, hoje, parte de uma visão técnica, menos personalista. Na gestão passada, dividia os museus entre amigos e inimigos. Acho que o (ministro da Cultura) Juca Ferreira está, neste momento, diante da dificuldade de recursos, conduzindo duas grandes tarefas: lutar pela manutenção do ministério e garantir que os poucos recursos tenham uma repercussão mais intensa. Porque a crise está impelindo – não apenas ao Juca, mas a todos nós – a transformar o limite em potência.

O que significa separar museus entre amigos e inimigos?

É preciso deixar claro que o Ibram representa a visão do estado, não da museologia brasileira. Um exemplo dessa visão personalista do Ibram, que eu quero crer que esteja chegando ao fim, foi quando colocaram a Advocacia Geral da União (AGU) em cima de mim, no momento em que eu estava à frente do Museu de Belas Artes (RJ). Isso porque eu havia sido indicado pela gestão anterior. No fim, acabei recebendo louvor da AGU e do Tribunal de Contas da União. Estava ali para fazer, não para roubar. Mas aquilo foi uma manobra para pressionar. E isso acontece porque as pessoas, no estado, têm projetos de poder. O sujeito está num cargo e se enxerga, em cinco anos, como ministro, como presidente do Iphan. As pessoas usam os cargos como trampolim. O Ibram não pode ser trampolim para nada.

O senhor argumenta que museus, para sobreviver, devem se distanciar do espetáculo. Mas museus com arquitetura e cenografia arrojadas se espalham pelo mundo. A arquitetura espetacular e a inserção dentro de um imenso programa de reurbanização do centro do Rio de Janeiro também não são partes fundamentais da popularidade do MAR?

As pessoas não se envolvem só pelo entretenimento. Elas se envolvem porque algo lhes fala profundamente. Museus sempre beiram a decadência quando estão satisfeitos com o que fazem. (O filósofo e historiador francês) Didi-Huberman diz que a cultura do espetáculo é a cultura da alienação. A arquitetura não é, necessariamente, espetáculo. Muitos museus que possuem uma arquitetura deslumbrante não são locais de promoção da cultura do espetáculo. Lançar livros, catálogos, promover exposições que acenem a dimensão crítica do público não é fazer cultura do espetáculo. O Rio de Janeiro há quase 50 anos não construía um projeto urbano adequado e a cidade está recebendo projetos arquitetônicos do (escritório americano) Diller Scofidio, do (espanhol) Santiago Calatrava, do Bernardo Jacobsen (que assina o MAR). Isso é um fundo cultural para a cidade.

Na última década, houve uma supervalorização da figura do curador – tornou-se uma grife. A curadoria, como peça fundamental do circuito, chegou ao fim ou só estamos no início desse processo?

Primeiro, existe certo desconforto, em relação à curadoria, por parte dos artistas. O artista que mais me atacou na curadoria da (24ª edição da) Bienal de São Paulo foi porque ele queria estar na Bienal, mas não estava. Óbvio, ele não diz isso. Minhas exposições têm muita curadoria, anotação, pesquisa. A curadoria é necessária, como o artista também é. Muita gente se diz curador sem ser. Mas esse não é meu problema e não é o de gente séria. Nosso problema é tentar honrar a arte e cometer alguns atos de audácia.

O que é uma boa curadoria?

É a imantação dos espaços. A curadoria é um discurso com os símbolos do outro. Então, o curador precisa ser um depositário fiel desses bens culturais. Não pode admitir censura. Porque, se admite, ele é o censor; subscreve a intriga. O curador que se deixa levar pelo cargo, por uma pressão do poder, está traindo não apenas a sua profissão, mas a arte.

No livro Tempos de grossura – o design no impasse, com textos do período à frente do MAM-BA, Lina Bo Bardi expõe a necessidade de a arte reexaminar a história do país, não através do folclore, mas de Aleijadinho, “dos nordestinos do couro e das latas vazias”, dos negros. Os museus brasileiros têm se saído bem nessa tarefa?

A Lina Bo Bardi foi alguém que estava interessada em inserir o outro no processo. No Brasil, nós temos uma visão eurocêntrica e uma visão ‘paulistocêntrica’. Recentemente, fiz a exposição que se chamava Pernambuco experimental para mostrar que a modernidade, em Pernambuco, contribuiu para a modernização de São Paulo, e não vice-versa. Fiz uma exposição sobre a Amazônia, onde discuto as vanguardas que fazem parte da história de Belém. A visão eurocêntrica e ‘paulistocêntrica’ ainda dominam o Brasil. Não é fácil desmontar os mitos.

 

Fonte / reprodução do site A Tarde (UOL) – acessado em 23.12.2015 :  http://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1726923-museu-fechado-a-elite-nao-serve-ao-brasil

Estação São Francisco

Fotos atuais (anos 2000/2015) da Estação Ferroviária de São Francisco (Alagoinhas,BA).  Aqui foi construída em 1940/1943 a primeira locomotiva que chegou à Caculé em 1947.

A Estação São Francisco, já possui um projeto executivo para restauração e implantação na mesma do Museu de Arte de Alagoinhas, o Centro de Documentação e Memória de Alagoinhas, um restaurante, oficina de cerâmica e cestaria, um café e um auditório para eventos e cinema.

estação Alagoinha anos 2014

Fonte:

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